O professor e político angolano Justino Pinto de Andrade considerou hoje que a população de Angola "começa a ter consciência dos seus direitos" e prevê que se realizem manifestações no país "quase todos os fins de semana".
"Dantes ia-se ao futebol, agora vai-se às manifestações", disse em declarações à Lusa, à margem da apresentação do livro "Economia Política e Desenvolvimento em Angola", no Centro de Estudos Sociais, hoje, em Lisboa.
Justino Pinto de Andrade, presidente do Bloco Democrático (partido na oposição em Angola), sublinhou ainda que a realização de manifestações no seu país "é bom" sinal.
Recordando que o direito de manifestação está consagrado na lei angolana, Justino Pinto de Andrade realçou, num recado ao governo de José Eduardo dos Santos, que "não se pode depois entrar em contradição reprimindo essas manifestações".
No caso dos protestos em Angola, nomeadamente na capital, Luanda, "tem havido sempre a tentativa de repressão ou de confinar os manifestantes a certos locais", denuncia, acreditando "que isso vai ser ultrapassado com o tempo".
A Fundação 27 de Maio anunciou para este sábado, em Luanda, a primeira de várias manifestações, até que o governo angolano responda às suas exigências, sobretudo à abertura de um processo jurídico sobre os acontecimentos de 27 de maio de 1977 e "à entrega das ossadas dos comandantes generais para um enterro condigno".
"O governo está em pânico, está a ver fantasmas onde não existem", diz Justino Pinto de Andrade, referindo-se à alegada "partidarização" dos protestos.
As manifestações que se têm realizado em Angola são "mais ou menos espontâneas, não são nada organizadas pelos partidos políticos, podem ser apoiadas formalmente, teoricamente, pelos partidos políticos", contra-argumenta o também diretor da Faculdade de Economia e Gestão da Universidade Católica de Angola, sublinhando, por outro lado, que "a lei não diz que os partidos não podem fazer manifestações".
Aliás, frisa, "o partido que tem feito mais manifestações é precisamente o MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola, no governo]". "Se o MPLA pode fazer manifestações, eu acho que os outros também podem fazer manifestações", reivindicou, considerando que o governo angolano está a reagir "com muito custo" aos protestos em curso.
"Se forem manifestações pró-governamentais, são capazes de distribuir bebidas entre os manifestantes, oferecer camisolas, t-shirts, enfim", tudo "com pompa e circunstância", mas quando as manifestações "não são a favor do governo geralmente a polícia posiciona-se e encontra uma forma qualquer de intimidar os manifestantes", compara. "O governo vai aprender também, se não aprender a bem, vai aprender a mal", antecipa.
A dimensão dos atuais protestos contra o governo "ainda é pequena", reconhece, realçando, porém, que se têm repetido "semanalmente" e estima que "vão crescer seguramente".
"As pessoas viveram durante mais de 30 anos amedrontadas, algumas até pensando que não tinham o direito de se manifestar", justifica, referindo que a geração mais jovem já não tem "este tipo de receios", "começa a sair da casca" e "tem usado, e bem", um "direito que tem".
"É assim nas sociedades democráticas", vinca o político, sem ignorar os "custos de liberdade" inerentes aos protestos. "Há pessoas que foram presas, condenadas, agredidas fisicamente... É sempre assim, sempre houve vítimas", realça.
Sobre a manifestação, também marcada para sábado, da juventude da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), em crise interna há vários anos, Pinto de Andrade sublinha que é um protesto "partidário" que "não pode ser confundido com as manifestações protagonizadas pelos jovens da sociedade civil". Porém, não há entre os dois grupos "qualquer litígio" e, portanto, "podem manifestar-se lado a lado".
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